INCC-M de Junho: O esperado Impacto dos dissídios em um cenário de pressões múltiplas

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M), registrou uma forte aceleração em junho, atingindo 0,96%. Representando um avanço significativo sobre a taxa de 0,26% de maio de 2025.

Por Arquis
26/06/2025

O INCC-M de junho veio com alta de 0,96%, puxado principalmente pela mão de obra (+2,12%). Para quem acompanha o setor, nenhuma surpresa. Maio é mês de dissídio na construção civil, e o reflexo no índice de junho é tão certo quanto o calendário.

O movimento já conhecido do mercado

Vamos combinar: todo profissional experiente do setor já tinha essa alta na conta. Os dissídios coletivos de maio são uma constante na nossa indústria, e seus impactos no INCC-M de junho fazem parte do ciclo natural de custos que gerenciamos ano após ano.

O que observamos em 2025 não é uma mudança de vilão, mas sim a continuidade de um cenário complexo onde múltiplas pressões coexistem. A mão de obra sempre foi e continuará sendo, um componente crítico na estrutura de custos da construção civil, especialmente com a falta de mão de obra especializada, pressionando a indústria a apresentar remunerações mais altas para preencher sua demanda.

A realidade dos múltiplos vetores de pressão

Seria simplista demais dizer que "agora" a pressão vem da mão de obra. A verdade é que gerenciamos simultaneamente:

  • Pressão salarial estrutural:  Os dissídios anuais são previsíveis e já incorporados em qualquer planejamento.
  • Volatilidade dos insumos:  Que não desapareceu – apenas está momentaneamente mais comportada por conta da Selic elevada.
  • Custos financeiros:  Com os juros elevados, o acesso a recursos financeiros está restrito e o crédito encarecido.
  • Pressões regulatórias:  Normas e exigências específicas do setor que agregam custos operacionais indiretos.

O que junho nos mostra é apenas que, neste momento específico, o componente salarial teve seu peso natural amplificado pelo calendário de negociações.

Os números em perspectiva

A evolução do INCC-M em 2025 segue um padrão reconhecível:

Mês de
referência
Evolução
Mensal
Acumulado
12 meses
jun/25
0,96%
7.19%
mai/25
0,26%
7,17%
abr/25
0,59%
7,52%
mar/25
0,38%
7,32%
fev/25
0,51%
7,18%
jan/25
0,71%
6,85%
dez/240,51%
6,34%
nov/24
0,44%
6,08%
out/24
0,67%
5,72%
set/24
0,61%
5,23%
ago/24
0,64%
4,84%
jul/240,69%
4,42%


Note como maio tradicionalmente apresenta desaceleração (os dissídios ainda não foram computados) seguida pelo pico de junho. O acumulado de 7,19% em 12 meses está dentro do espectro esperado para um setor que convive com pressões inflacionárias constantes.

Gestão de custos: O desafio permanente

Para quem está há tempo no mercado, a mensagem é clara: não existe bala de prata. A gestão eficiente de custos na construção civil sempre exigiu, e continuará exigindo, atenção simultânea a múltiplas frentes:

1. Inteligência na compra de materiais: A relativa estabilidade atual não significa que podemos baixar a guarda. É momento de aproveitar para negociar contratos de fornecimento mais favoráveis. A análise do Grupo de Materiais, Equipamentos e Serviços" revela uma mudança de tendência sutil, mas relevante. O conjunto subiu 0,13% em junho, revertendo a leve queda de 0,07% registrada em maio.

Essa inversão foi puxada principalmente por dois movimentos distintos. Do lado dos Materiais e Equipamentos (+0,06%), subgrupos que vinham registrando quedas de preço começaram a subir, como o de "materiais para instalação", que saltou de -1,33% para +0,31%. Já no componente de Serviços (+0,74%), a aceleração foi motivada pelo reajuste na "conta de energia", cuja variação passou de 2,20% para 3,76%. O dado sinaliza que, apesar da estabilidade relativa, a pressão sobre os insumos não pode ser descartada do radar dos gestores.

2. Gestão inteligente da mão de obra: Os dissídios são fato consumado, mas produtividade e eficiência operacional continuam sendo variáveis sob controle.

3. Planejamento financeiro robusto: Incorporar não apenas as variações mensais, mas os ciclos sazonais conhecidos do setor.

O que realmente importa

O INCC-M de junho reforça o que profissionais experientes já sabem:

  • Previsibilidade existe:  Os dissídios de maio e seu impacto em junho são totalmente previsíveis
  • Múltiplas pressões são a norma:  Não temos um único vilão, mas um conjunto de fatores que demandam gestão constante
  • Ciclos são naturais:  Momentos de pressão maior em mão de obra se alternam com períodos de alta em materiais

Olhando à frente com pragmatismo

A análise do INCC-M de junho reforça uma máxima do setor da construção: para empresas com planejamento e inteligência de mercado, não há surpresas, há variáveis a serem gerenciadas. A aceleração do índice, impulsionada por um movimento sazonal e previsto como o dissídio coletivo, serve como um lembrete do caráter cíclico da atividade.

O desafio imposto pela alta no custo da mão de obra, assim como futuras oscilações no preço de materiais ou nas condições de crédito, faz parte do núcleo da gestão de projetos. A verdadeira medida de competência no setor não está em evitar essas pressões, mas em antecipá-las e gerenciá-las com eficiência, transformando dados, como os do INCC-M, em decisões estratégicas que garantam a qualidade e a viabilidade dos empreendimentos.





Arquis
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